A recente ascensão do pregador mirim Miguel Oliveira, que insere aleatoriamente palavras e frases em inglês em suas mensagens tem gerado mais preocupação do que admiração em certos círculos teológicos e pedagógicos.
Longe de ser a "língua dos anjos", como alguns entusiastas sugerem, essa prática superficial obscurece a profundidade e a seriedade da comunicação da fé, desviando a atenção do verdadeiro dom de línguas conforme apresentado nas Escrituras.
Vídeos de Miguel Oliveira intercalando o português com expressões desconexas em inglês, como “Off the King the power demanded the bastard, the king the ferry goes ma’am” – cuja tradução literal, segundo professores de inglês, resulta em um amontoado sem sentido: “Desliga o rei, desliga a energia, exigiu o bastardo, o rei, o ferry vai senhora” – viralizaram, levantando sérias questões sobre a autenticidade e o propósito dessa manifestação linguística.
Influenciadores com discernimento teológico e preocupação com o desenvolvimento infantil têm expressado forte crítica a essa tendência.
Argumentam que o uso fortuito de um idioma estrangeiro, sem aparente compreensão ou contexto, desvaloriza a mensagem bíblica e pode induzir a erros de interpretação.
A busca por uma aura de espiritualidade através de palavras em inglês soa artificial e desvia o foco da genuína experiência espiritual e do entendimento das Escrituras em sua língua materna.
A verdadeira manifestação do falar em línguas, ou glossolalia, conforme descrito no Novo Testamento (Atos 2:4, 1 Coríntios 14), é um dom do Espírito Santo que capacita os crentes a se comunicarem em línguas desconhecidas para eles, seja como sinal para os não crentes ou para edificação pessoal e da igreja, frequentemente com a necessidade de interpretação para o entendimento comum.
Esse dom espiritual genuíno não se assemelha à inserção aleatória de frases em inglês aprendidas superficialmente por Miguel Oliveira.
O apóstolo Paulo, em 1 Coríntios 14, dedica um capítulo inteiro à importância da inteligibilidade na comunicação da fé. Ele enfatiza que profetizar (falar de forma compreensível para edificação, exortação e consolação) é superior ao falar em línguas sem interpretação, pois o objetivo principal é a edificação da igreja. Paulo chega a afirmar: "Prefiro falar cinco palavras compreensíveis na igreja, para instruir os outros, do que dez mil palavras em língua estranha" (1 Coríntios 14:19).
A prática do pregador mirim utilizando o inglês dessa maneira levanta preocupações sobre a exploração da imagem infantil e a priorização da performance em detrimento do conteúdo.
A ênfase em uma linguagem incompreensível para a maioria desvia a atenção da mensagem central do Evangelho e pode criar uma falsa impressão de espiritualidade baseada em exotismo linguístico, e não em um relacionamento genuíno com Deus e no entendimento de Sua Palavra.
É crucial que a comunidade cristã retorne ao princípio bíblico da comunicação clara e edificante da fé.
O verdadeiro poder da pregação reside na compreensão da mensagem e em sua aplicação prática na vida dos ouvintes, e não na exibição de habilidades linguísticas superficiais.
O foco deve ser no ensino sólido das Escrituras, na língua materna, para que a mensagem transforme vidas com entendimento e convicção, em vez de confundir e desviar com um "inglês santo" desprovido de significado real.
A valorização do dom genuíno de línguas, quando manifestado de acordo com os propósitos bíblicos, é fundamental, mas sua deturpação em uma exibição de frases desconexas em inglês por Miguel Oliveira merece uma análise crítica e uma refutação em prol de uma fé autêntica e compreensível.